UMA VIAGEM AO EXTREMO ORIENTE
Ernesto Magalhães Hafers e Giuseppina Lydia Hafers
Prezado Presidente,
Caros Companheiros,
Atendendo a um pedido do nosso caro Presidente e de outros companheiros* aqui estou para contar-lhes alguma cousa sobre a nossa viagem ao Extremo Oriente, Esta tarefa tona-se bastante difícil em vista da quantidade enorme de impressões que colhemos durante a nossa estada nesses estranhos países.
Caros Companheiros,
Atendendo a um pedido do nosso caro Presidente e de outros companheiros* aqui estou para contar-lhes alguma cousa sobre a nossa viagem ao Extremo Oriente, Esta tarefa tona-se bastante difícil em vista da quantidade enorme de impressões que colhemos durante a nossa estada nesses estranhos países.
Conhecemo-los somente através de alguma literatura.
Peço desculpas si não consigo transmitir uma ideia exata sobre aquilo
que vimos, ou se não serei capaz da pintar os quadros das nossas mil e uma aventuras em
cores vivas e brilhantes, as quais, tenho certeza, mereciam.
Consideramos esta viagem um presente de Deus, e ficamos profundamente gratos e
também absolutamente convencidos que a terra em que vivemos pequena como é,
apresenta para os seus habitantes maravilhas nunca adivinhadas em belezas
naturais.
Percorremos 24.000 km, para chegar ao outro lado do nosso planeta, até o Japão oposto ao
nosso Brasil, e perdemos, viajando sempre em direção ao Sol Nascente, 12 horas
de nossa vida. Levamos até o porto de destino, Tokhama, 1 mês e 23 dias.
Depois de nossa despedida em Santos a 11 de Fevereiro, subimos a bordo do grande e
luxuoso transatlântico holandês, o m/v TEGELBERG, de 15,000 toneladas, que lá
estava á nossa espera. Estava destinado a ser o nosso confortável hotel
flutuante durante essa viagem através dos mares e países desconhecidos. Saímos
de Santos a noite e vimos com emoção desaparecer, aos poucos, as luzes cintilantes das
nossas lindas praias. Na manhã seguinte já aportávamos no Rio de Janeiro, e na mesma
tarde então o talha mar do navio tomou corajosamente rumo ao Cabo da Boa Esperança
através das águas tumultuosas do Oceano Atlântico. Acenamos os lenços num adeus
à nossa querida pátria, que desaparecia lentamente no horizonte. Após
navegarmos 9 dias sem vermos terra, surgiu do mar azul o imponente Cabo da Boa
Esperança, com as suas altas montanhas rochosas: a Cabeça do Leão, os 12 Apóstolos e o célebre "Table-Mountain”
Tinha-se impressão de grandiosidade nessa paisagem. Ao pé dessas montanhas jaz a branca Cidade do Cabo.
Ali ficamos alguns dias, e aproveitamos o tempo para fazer lindos passeios
nas vizinhanças. Uma estrada ótima, o "Marine Drive” conduz ao longo do
mar até chegar a Rocha do Cabo da Boa Esperança. Vimos as águas azul-escuras do
Atlântico misturar-se com as verdes do Oceano Indico. Nessa região existe um
território reservado a algumas espécies da Fauna Africana. Vivem ali gazelas c
veados, e também, o que representa a atração do lugar um bando de macacos
enormes, os Baboons. Estes pulam e galgam por cima dos carros, pedindo balas ou
biscoito*. Apesar de serem parecidos com a raça humana, são animais de meter
medo. Uma outra linda excursão é a ascensão ao "Table-Mountain" em
carro suspenso por cabo de aço. A vista é muito linda, e tivemos sorte com o tempo. É muito raro
não se encontrar nuvens que vêm sentar-se nessa enorme mesa, transbordando-a e
precipitando-se das paredes verticais das encostas abaixo em direção da cidade,
Esta oferece aos turistas muitos e excelentes hotéis e a comida preferida é a
deliciosa lagosta fresca com uma garrafa dos átimos vinhos brancos da Colónia do Cabo.
Mas logo nosso vapor apita e em marcha lenta e circum-navegamos o místico
Cabo. Estamos no Oceano Indico com as suas águas verdes e com os seus enormes
vagalhões, que na costa oriental da África fazem o grande vapor balançar para todos
os lados. Entramos no porto de Port Ellizabeth onde se encontra uma "Snake
Farm" idêntica á nossa de Butantan. As cobras, de 4m, me pareciam mais
Feias, mais Ágeis e mais perigosas. O ultimo porto da África em que tocamos foi
Durban, grande cidade com praias bonitas e hotéis bons Impressionam ao
visitante logo na chegada, os altos nativos, chamados Zulus, vestidos com os
seus trajes de guerreiros com cabeças enfeitadas de chifres enormes de boi e
penas de peru. São os Ricscha-Boys. Deixam-ae fotografar, exigindo porém 1
shilling cada vez. Com velocidade percorrem as avenidas puxando os pequenos
carros para 2 passageiros. Parecem homens perigosos, mas são bem mansos e
sempre de bom humor. Visitamos o Tale dos Mil Morros, um grande território
reservado exclusivamente para os Zulu. Vivem lá a sua vida primitiva morando em
cabanas redondas e de pouca altura feitas de palha. Conversei com um Zulu que possuía duas cabanas e nada menos que seis
mulheres! São elas que plantam e colhem o milho, tratam dos porcos e das vacas
e também da numerosa prole que corre nua em redor das miseráveis choupanas.
Apesar do intenso frio daquele dia, as mães usavam saias curtinhas tendo no
colo e nos braços alguns colares de contas de vidro colorido. Vê-los dançar é
um algo muito interessante.